Ôxenti era daquelas mulheres
nascidas nas entranhas do sertão nordestino - trabalhadeira e com o sorriso
constante no rosto. Mulher de beleza esplendorosa, simples e romântica. Sonhava
apenas com o dia que iria aparecer um sertanejo forte e honesto para se casar. O
homem que a defenderia de tudo, até das intempéries da natureza.
Não demorou muito para ele aparecer.
Apaixonou-se e casou-se com direito a festa e sanfona a noite inteira. Mas a felicidade
durou pouco, pois logo depois o pai de Ôxenti faleceu. Deixou as terras para a
filha e o marido. Foi ai que tudo mudou. O marido já foi vendendo a propriedade
e a criação. Levou a mulher para morar em Ribeirão Preto, no estado de São
Paulo. Lá tudo foi piorou. O homem não conseguia emprego e ocupava seu tempo
bebendo. Ôxenti trabalhava duro e sempre que voltava pra casa, o marido estava
bêbado e violento. Até que pirou de vez. Ele a esperava em um beco, a espancava
e quando chegavam em casa, fingia para a mulher que nada tinha acontecido.
Ôxenti jamais aceitaria passar
por isso. Um dia, ao sair para o trabalho, lembrou-se do carinho que os pais
tinham um pelo outro e por ela. E da vida tranquila que tinha lá no sertão. Foi
lhe subindo um sangue, um rancor e um ódio sem controle. Ela sentiu que seu
coração ia explodir. Mas de repente ela ficou leve, quase voando.
Ôxenti colocou seu gibão e chapéu
de couro e ficou a espreita do seu agressor no beco. Quando ele apareceu ela
deu-lhe um belo sopapo nos olhos. A moça parecia bem maior, os cabelos soltos
davam um ar assustador à sombra dela. Emitia gritos ensurdecedores de fúria e
batia no marido com toda a força. Quando o homem ia conseguir escapar, Ôxenti deixou
a luz iluminar seu rosto para ser reconhecida.
O marido assustado correu para
casa. E logo a polícia bateu em sua porta trazendo a notícia da morte de Ôxenti.
O maior espanto foi saber que ocorrera de manhãzinha, ainda quando a moça ia ao
trabalho. Disseram que morreu com um ataque do coração.
Depois do ocorrido começaram a
aparecer na cidade diversos casos de homens agredidos naquele beco escuro.
Todos eles haviam batido numa mulher algum dia e contavam desesperados sobre a mulher
gigante de gibão e cabelos esvoaçantes que os havia atacado.
(Essa lenda nos foi lembrada por:
Carolina Borges - SP)
Ilustração por: Danielle PioliART
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